Inquérito ICS-ULisboa e ISCTE-IUL sobre impacto do COVID19

Posted By ciencia-aberta on Abr 10, 2020


No início de Abril são lançados os primeiros resultados de um inquérito online sobre a Pandemia Covid-19 e os seus impactos em diversas esferas da vida das pessoas que vivem em Portugal.

O inquérito foi realizado entre 25 e 29 de março de 2020, junto de uma amostra de cerca de 11.500 inquiridos, não representativa da população residente em Portugal. Por essa razão, este relatório não procura fazer inferências descritivas para qualquer população, mas sim concentrar-se em dois aspetos principais: 1) as relações entre determinados atributos dos inquiridos e as suas opiniões e comportamentos; e 2) o seu discurso direto, em relação a algumas perguntas de resposta aberta incluídas no inquérito.

Nesta amostra, uma das variáveis mais fortemente associada à prevalência de diferentes opiniões e atitudes é a situação económica dos inquiridos.

(Link do relatório: https://www.ics.ulisboa.pt/docs/RelatorioInqueritoICSISCTE.pdf )

Pese embora maiorias expressivas dos inquiridos afirmarem ter “muita” ou “alguma” confiança nas respostas dadas à pandemia pelas diferentes autoridades, são, em particular, os inquiridos que já viviam com maiores dificuldades económicas antes da pandemia que tendem a revelar menor confiança. São também estes inquiridos quem menos confia nas fontes tradicionais de informação, os que mais dizem estar a ter dificuldades em lidar com as restrições trazidas pelo estado de emergência e os que mais afirmam já terem sido afetados financeiramente pela crise. 

Em consonância com isto, o discurso direto dos inquiridos sobre as maiores dificuldades que estão a sentir com as atuais restrições aponta com muita frequência para problemas económicos, especialmente por parte de trabalhadores por conta de outrem que ficaram desempregados, de trabalhadores independentes que deixaram de ter atividade e de pequenos empresários que tiveram de fechar a atividade: “o nosso pequeno negócio em risco de desmoronar”; “serei mais um ‘velho debaixo da ponte’”; “absolutamente em pânico sobre o futuro”, são algumas expressões que dão conta do contexto atual.

Para além dos problemas económicos e da situação de desempregado ou em “férias forçadas”, que estão fortemente associados a maiores dificuldades em lidar com as atuais restrições, há também escalões etários onde essas dificuldades são sentidas mais fortemente: os mais jovens de todos (16-24 anos) e os inquiridos entre os 35 e os 44 anos com agregados familiares mais numerosos e filhos menores. Os primeiros mencionam frequentemente o isolamento e a falta de liberdade e convívio como fonte de frustração e angústia (no que são acompanhados por alguns inquiridos mais velhos, divorciados ou viúvos). Os segundos mencionam frequentemente a dificuldade em conciliar, no espaço doméstico, o trabalho, a vida familiar e a educação dos filhos. Finalmente, encontra-se em todas as idades e condições uma preocupação recorrente com vários aspetos da saúde mental (estados depressivos, stress e ansiedade).

Os inquiridos mais jovens (16-34 anos) distinguem-se dos restantes de vários pontos de vista: para além de tenderem a ter menos confiança na resposta das autoridades e em quase todas as fontes de informação, tendem também a defender medidas mais restritivas para lidar com a pandemia e, ao mesmo tempo, a considerar que as restrições terminarão mais cedo, apontando para final de abril ou maio. No seu discurso direto, emerge frequentemente a preocupação com a falta de cumprimento das regras atualmente em vigor e com a importação de casos, uma desconfiança em relação ao senso comum da generalidade da população e a conveniência em adotar práticas e comportamentos de países onde o combate à pandemia terá sido mais bem-sucedido.

A incerteza (“não sei até quando as atuais restrições vão durar”) e a crença no pior cenário (“até ao fim do ano ou mais”) sobre a duração das atuais restrições são maiores entre os mais velhos e aqueles que têm maiores dificuldades económicas. No discurso direto, as preocupações manifestadas sobre o futuro são de vários tipos e combinam várias dimensões em simultâneo. Assim, por um lado destacam-se as preocupações quanto à saúde, incluindo os receios de contaminação, a saúde dos próprios e dos seus entes queridos e a capacidade de resposta dos serviços de saúde. Por outro, também prevalecem, sobretudo para quem está em idade ativa, as preocupações económicas — perda de emprego (para os trabalhadores por conta de outrem ou trabalhadores independentes) ou sobrevivência das empresas (para os empresários) — e as preocupações com a educação, nomeadamente com a escola dos filhos, o comprometimento dos seus projetos escolares e o seu acesso ao ensino superior. Nas franjas mais jovens da amostra destaca-se também a preocupação com o acesso ao ensino superior, assim como com a conclusão dos cursos e a entrada no mercado de trabalho. Importa notar que outras preocupações são transversais, nomeadamente, as que têm a ver com a saúde mental, os efeitos do confinamento social e a dificuldade em lidar com a incerteza. Aceda ao relatório aqui.

Na última semana de abril decorrerá uma nova ronda de inquirição deste inquérito online, focada em acompanhar a evolução dos impactos sociais da pandemia junto dos inquiridos que participaram na primeira ronda.

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